100 anos da Semana de Arte Moderna: o que éramos, quem somos?
O que se pretende ao trazer o debate sobre o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 para o cotidiano da escola?
A primeira resposta, de onde partem diversas perguntas, talvez possa começar aqui: compreender os impactos na transformação das artes, da sociologia e da literatura no Brasil, que tiveram a Semana de Arte Moderna como ponto de inflexão. Um momento de encontros estéticos e políticos – e, nesse sentido, há de se levar em consideração tanto contextos de processos históricos que começaram antes de 1922, como os que tiveram desdobramentos posteriores.
Tendo esse panorama em mente, como seria voltar à pergunta-título: o que éramos, quem somos?
Analisando a historiografia do movimento modernista, reconstruímos sua memória, mas não só. Ao nos voltarmos para o passado, observamos nós mesmos, o Brasil de nosso tempo, com olhos diferentes. Levamos, também, para a Semana de Arte Moderna, um pouco do futuro – colocando no que foi, entendimento daquilo que poderia ter sido. Nesse sentido, enxergar a presença (ou ausência) de vozes negras e indígenas, a força de seus artistas, pensadores e representações, são vértices fundamentais para compreender o modernismo, seus desdobramentos, impasses e limites.
De Oswald de Andrade a Ricardo Aleixo; Chico Buarque a Mano Brown; Carolina Maria de Jesus a Clarice Lispector; Tom Jobim a Guimarães Rosa; Mário de Andrade a Itamar Vieira Junior; Lubi Prates a Cecília Meireles. São tantas as curvas quanto contundentes as presenças do modernismo neste território brasileiro. Território que, entre disparidades e contradições, carregamos no peito. Um escapulário, tal qual o de Oswald de Andrade, revelando, lá do alto ou entre cacos, “a poesia de cada dia”.