Patrimônio Histórico

Nas aulas de História, 6º ano do Ensino Fundamental realiza entrevista com tia avó de colega para estudo sobre patrimônio histórico. 

Criar uma ambiente em sala de aula em que os alunos possam estabelecer conexões entre o conteúdo e a realidade vivida por eles, por meio de indagações, reflexões e conhecimentos próprios, é um dos objetivos da educação como um todo, especialmente no ensino de História. Essas conexões, além de permitirem um vínculo maior com a aprendizagem, possibilitam também o enriquecimento e aprofundamento do conteúdo desenvolvido em aula.

Essa foi a situação vivida por uma turma do 6º ano. Após trabalharmos com os conceitos de patrimônio histórico, tombamento, bens culturais materiais e imateriais, propusemos à turma a realização de uma pesquisa no site do IPHAN, em que a turma, dividida em grupos, investigou sobre diversos patrimônios, de diferentes estados, identificando quando o bem cultural foi tombado, o motivo de ser tombado, sua função no passado e sua data de criação. 

Foi neste momento que a aluna Lorena Gálico Donnabella procurou a professora para contar sobre sua tia avó, que havia trabalhado no IPHAN. Decidimos, então, fazer uma entrevista por e-mail, para que as respostas fossem lidas em classe posteriormente. Essa foi uma experiência muito rica, que permitiu aos alunos e à professora novos conhecimentos e reflexões sobre o tema.

Veja abaixo a entrevista na íntegra! 

Há quantos anos você trabalha ou trabalhou no IPHAN?
Eu comecei a trabalhar para o IPHAN em 1981, contratada para executar uns projetos paisagísticos, elaborados no escritório Burle Marx, para a cidade de Tiradentes/MG. Em 1984 eu entrei para o quadro do IPHAN para assumir o escritório técnico, recém-criado na cidade de Tiradentes. Me aposentei em 2011, tendo portanto permanecido no IPHAN por 27 anos.

Que curso de graduação você fez?
Cursei a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.

Você fez algum curso de Pós-Graduação?
Fiz o curso de especialização em Gestão da Conservação Urbana.

Quais foram as maiores dificuldades que você enfrentou no seu trabalho com patrimônio histórico?
Quando comecei a trabalhar na cidade de Tiradentes estava iniciando um processo de crescimento econômico por meio do turismo. Com isso, começou a crescer a demanda por construções novas e reformas, e os moradores não estavam acostumados a seguir normas de construção, pois nem a prefeitura tinha regras. Os primeiros anos foram muito difíceis, com necessidade de fiscalização intensa pois eram muitas obras irregulares, levantamento das edificações para delimitação da área a ser protegida e estudos para definição de critérios e normas para proteção, além de conversas com os moradores, empresários e políticos para esclarecimento sobre o que significa preservar o patrimônio histórico da cidade e como preservar.

Você considera que o Brasil tem uma boa política e boas ações em relação ao patrimônio histórico?
A legislação federal de proteção ao patrimônio nacional, apesar de ser de 1937, é referência para as legislações estaduais, municipais e até de outros países. Apesar de poucos recursos financeiros e de um quadro pequeno de funcionários para atender todo o país, o IPHAN teve e tem um trabalho muito importante durante essas décadas. Atualmente, está num processo de reestruturação depois de um desmonte que sofreu no governo Bolsonaro.

Você tem uma história inusitada, ou mais interessante, para nos contar sobre os seus anos de trabalho com patrimônio histórico?
O fato que vou relatar ocorreu antes de eu assumir o escritório do IPHAN, quando estava acompanhando a execução do projeto paisagístico do Chafariz de São José. Foi o único trabalho que realizei junto com a Prefeitura Municipal de Tiradentes e foi uma experiência valorosa. Os funcionários da prefeitura que trabalhavam na obra se envolveram com o trabalho e cada etapa vencida era uma festa. O projeto foi muito ampliado: além de restaurarmos o chafariz resolvemos todos os problemas de escoamento da água, que passava por baixo da casa em frente e que nos períodos de chuva aflorava água dentro da casa, limpamos o Ribeiro, retiramos uma garagem irregular construída em cima dele. Concluímos pela importância do trabalho conjunto com a prefeitura para que a preservação seja mais efetiva.

Como a sociedade civil pode ajudar na preservação do patrimônio histórico?
A participação da sociedade civil no trabalho de preservação é a garantia de sucesso. Para isso, o primeiro passo é a gente conhecer e valorizar o lugar em que moramos, casa, apartamento, bairro e cidade, saber suas histórias. Só queremos preservar o que conhecemos, valorizamos e sentimos fazendo parte da nossa história. Queremos preservar o que é de todos e que ficará para os que virão depois de nós. Para isso, temos que entender que o patrimônio público pertence a todos – e não a ninguém, como muitos pensam.

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