Diálogos Oswaldianos: Infâncias e Gêneros
Em 2024, o Oswald Formações reinaugurou o espaço que traz debates relevantes para o desenvolvimento infanto- juvenil para a comunidade oswaldiana. Em sua primeira edição, os psicanalistas Ilana Katz e Paulo Bueno discutiram questões de gênero.
Diálogos Oswaldianos
Há quase 50 anos, o Colégio Oswald de Andrade tem sido um espaço formativo que contribui para o desenvolvimento de cada indivíduo e que promove a construção de uma sociedade crítica e engajada. Ser “uma escola que aprende de forma colaborativa” consiste em um valor cultivado entre nós, por meio de boas práticas cotidianas, bem como na formação contínua não somente de nossos estudantes, mas também de nossos educadores e toda a nossa comunidade.
Por esta razão, em 2016, foi fundado o Oswald Formações, inicialmente no formato das Jornadas de Formação. Com a intenção de promover estudos, debates e trocas de boas práticas entre educadores, trouxemos parceiros para diversificar e ampliar nosso repertório, assim como o do público interessado. A iniciativa, tal como outras ações oswaldianas, é uma expressão de algumas de nossas características mais essenciais: a abertura a mudanças e a ousadia para buscar novas práticas e metodologias.
Os chamados Diálogos Oswaldianos, então, são um convite aberto para o público-geral (de dentro e fora da nossa comunidade) para discutir e refletir sobre temáticas importantes, sensíveis e variadas acerca da área da Educação e do desenvolvimento psíquico-social de crianças e jovens.
Masculinidades Plurais
O primeiro encontro, que ocorreu no dia 15 de maio, recebeu famílias e educadores interessados em entender como as questões de gênero operam desde a infância em nossas vidas. A conversa foi bastante rica e trouxe diferentes perspectivas para analisar distintos subtópicos que sustentam as desigualdades de gênero, como: expectativas de gênero; masculinidades plurais; machismo na escola, cultura e famílias; assim como a estrutura patriarcal, de modo geral.
O evento foi iniciado pela fala de Paulo Bueno – psicólogo, psicanalista, mestre e doutor pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social (PUC-SP) e também colunista do portal Papo de Mãe –, que abordou não somente a masculinidade hegemônica, isto é, a que é socialmente imposta, mas também as “novas masculinidades”, como as homoafetivas e transsexuais. Ao longo do debate, investigou e pontuou como as expectativas de gênero estão presentes desde a gestação e como seguem pelo resto da vida. Exemplificou, com situações de sua própria infância, uma faceta “tóxica” do masculino ideal e viril, que se expressa de maneira bélica, subjugando e dominando o outro.
“[…] A gente precisa pensar numa queda desse ideal [viril], sem dúvida. Uma queda desse ideal implica em uma valorização, uma pluralização de outras possibilidades reais, de valorização de [outras] masculinidades. Por exemplo, a masculinidade cuidadora.”
– Paulo Bueno
No entanto, o discurso do psicanalista não se limitou à problematização da masculinidade hegemônica. Bueno trouxe, mais uma vez, exemplos de sua vida pessoal para evidenciar experiências masculinas alternativas àquela do ideal viril, que sustenta o patriarcado. Aprofundou, principalmente, na questão da masculinidade cuidadora ou paterna por meio de observações das suas próprias experiências como pai, tema que já abordou em seu livro lançado em 2022 “Coisas que o Pedro me ensina: crônicas de uma paternidade” (Editora 106).
A infância como momento do “vem chegando”
Em sequência, foi a vez de ouvir as reflexões sobre a temática feitas por Ilana Katz – psicanalista, pesquisadora no LATESFIP-USP e no IP-USP, onde também realizou pós-doutorado em Psicologia Clínica, e é também doutora em Educação na FE-USP –, que aprofundou a conversa tendo como principal foco a maneira com que a sociedade patriarcal se estrutura e o papel social da escola.
Katz usou como base teórica para suas falas o livro “Infância e História: destruição da experiência e origem da história”, de Giorgio Agamben (Editora UFMG), em que reforça a escola como o lugar social do “vem chegando”. A psicanalista explicou que, na escola, portanto, as crianças têm suas primeiras experiências de construção de seus universos simbólicos e culturais, ou seja, que possibilitam entender e decodificar códigos sociais.
“[..] No interior de uma escola, o convite é para que a gente possa pensar o tratamento dessas experiências, numa lógica diferente da discussão sobre o machismo ou sobre o racismo ou sobre o mecanismo na sociedade entre adultos. Exatamente porque a gente não pode perder aqui a chance de transformar isso.”
–Ilana Katz
Para a psicanalista, as crianças são tão pertencentes às estruturas sociais quanto os adultos e, por este motivo, acabam muitas vezes reproduzindo dinâmicas opressivas, como: machismo, racismo, capacitismo, elitismo, LGBTfobia etc. Durante seu discurso, Ilana provocou reflexões que trouxeram a pergunta: como podemos transformar a escola, que muitas vezes se mostra um ambiente de manutenção de estruturas de poder, em um lugar de enfrentamento dessas opressões?
O encontro foi uma possibilidade para inúmeras ponderações sobre como podemos encarar, desde a mais tenra idade, as questões de gênero: seja sobre dinâmicas de poder que se estabelecem; seja sobre como acolher diferentes expressões de masculinidades ou feminilidades (ou mesmo não-binariedades) – independente de expectativas e ideais sociais.
Assista a palestra na íntegra em nosso canal do YouTube.
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