“Adolescência” e as dificuldades dos processos identitários e violências simbólicas na era das redes sociais

Em junho, Rinaldo Voltolini – psicanalista e professor – conduziu um debate sobre a minissérie “Adolescência”, trazendo provocações e reflexões sobre a complexidade deste período marcado por vulnerabilidades, busca por identidade e inúmeras transformações (físicas, psíquicas e sociais).

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Na imagem, Nana Giovedi (mulher branca de cabelos loiros), Rinaldo Voltolini (homem branco de cabelos grisalhos) e Laura Nassar (mulher branca de cabelos pretos) discutem a minissérie 'Adolescência'.(Divulgação/Jéssica Amaral).

 Em junho ocorreu mais uma edição do Diálogos Oswaldianos, em que analisamos e debatemos a minissérie “Adolescência” (Adolescence), fenômeno de audiência e crítica, que atingiu cerca de 141 milhões de visualizações, sendo a segunda série mais assistida na Netflix no último ano. A obra conta a história de Jamie Miller, um adolescente de 13 anos que é preso sob acusação de assassinato de uma colega de escola, explorando as consequências desse crime, as pressões sociais que afetam os jovens e a dificuldade das famílias em entender seus filhos e filhas. A roda de conversa foi conduzida por Rinaldo Voltolini – psicanalista, professor e pesquisador –, que fugiu de definições e categorizações simplistas, trazendo inúmeras provocações e reflexões sobre a complexidade deste período marcado por vulnerabilidades, busca por identidade e inúmeras transformações (físicas, psíquicas e sociais). 

 

Ao longo da conversa, o professor da USP situou as mudanças de paradigmas que vivenciamos enquanto sociedade, sobretudo, a influência que as redes sociais desempenham nos jovens – tanto para encontrar suas próprias “tribos” quanto nas violências simbólicas praticadas nos meios digitais. Em meio a essa realidade, Voltolini instigou relações quanto à lacuna comunicacional entre as gerações de crianças e jovens que já cresceram em ambientes virtuais (e conhecendo seus códigos) e suas famílias e educadores (por vezes, “inocentes” em relação a estas linguagens codificadas). Afinal, como podemos exercer a função de adultos responsáveis, em um momento que os diálogos cada vez mais se reduzem a meras interações virtuais? 

 

Na conversa, Voltolini atribuiu o sucesso da minissérie a um certo padrão de universalidade, por se tratar de questões que, de forma direta ou não, atingem milhares de famílias e educadores. Afinal de contas, para o pensamento psicanalítico, a fase da adolescência em nossa sociedade ocidental é um momento em que os sujeitos passam, gradualmente – de acordo com fatores como raça, classe e gênero – a absorver e entender suas liberdades e responsabilidades enquanto adultos. Neste momento, com a chegada da puberdade, o “corpo real” aparece e a sexualidade começa a ganhar relevância efetiva na vida dos jovens. Desta forma, as perguntas que os jovens passam a fazer já não são as mesmas e as respostas não podem mais ser encontradas dentro da vida familiar. Por isso, este é o momento em que ocorrem as crises identitárias, que não necessariamente são negativas, pois as crises só são ruins quando adotadas saídas regressivas (que fogem da responsabilização). Isto pois estas transformações levam os jovens a uma busca por “restabelecimento identitário”, elaborando novas colocações e paradigmas, ao mesmo tempo que se encontram em uma posição de maior exposição e vulnerabilidade quanto a influências externas. 

 Eu diria que a adolescência nunca é reformista, ela é revolucionária.
 Rinaldo Voltolini 

Para Rinaldo, outro ponto alto da minissérie “Adolescência” é uma perspectiva que foge de simplesmente apontar ou diagnosticar Jaime, que, por sua vez, não cai nos estereótipos de jovens “psicopatas”, truculentos e evidentemente cruéis. O psicanalista pontua que o desconforto provocado pela produção também parte do fato de que o protagonista teria vindo de uma família “normal”, “funcional”, “estruturada” – ou seja, sem as aparentes fissuras esperadas nesses casos –, aproximando o espectador mediano da narrativa. Afinal de contas, até o acontecimento da tragédia, para os adultos, Jaime era mais um adolescente comum. Colocando-nos na posição de que o Jaime não seria o “filho do outro”, mas de que “poderia ser o meu filho”. 

 

Neste sentido, o psicanalista ressaltou mais uma vez a dificuldade que os adultos encontram em compreender a maneira como as relações dos jovens acontecem, tanto em relação ao bullying quanto aos funcionamentos das redes sociais. Na minissérie, é evidenciado o modo narcísico que as mídias sociais operam, pois é por meio delas que os jovens atribuem valor tanto para si quanto para o outro. No entanto, Rinaldo destaca que os botões nas redes sociais são sempre de “like” e não de “love”, uma vez que o verbo gostar denota um sentimento mais corriqueiro e banal, enquanto amar demanda mais profundidade. Este gera a formação de bolhas nas relações, que acabam sendo mais superficiais por serem tão pautadas na cultura digital, em uma constante lógica de avaliação e competição (o que também favorece comercialmente essas plataformas). 

 

Nesse sentido, o “FOMO” (Fear of Missing Out) ou “o medo de ficar de fora” provocado por esses ambientes online acaba sendo favorável para desestabilizar psiquicamente os jovens, pois se o meu valor está nas redes quando “o colega viajou, eu não” ou “fulano transa, eu não”, nutre-se um sentimento de desvalorização por si ou pelo próximo. Como é o caso dos famigerados incels (involuntary celibates), citados na minissérie, que se refere à subcultura online composta majoritariamente por homens jovens, brancos, heterossexuais, que devido às suas frustrações aderem à uma ideologia de misoginia, racismo e LGBTfobia.

 

Desta forma, os impactos das redes sociais em jovens e adolescentes é complexo, pois, além do “bullying” que conhecíamos ganhar uma nova roupagem e códigos, ele se torna mais difícil de ser rastreado e responsabilizado na internet. O que faz com que muitos adultos adotem uma postura de controle e temorosidade ao tentar estabelecer conversas com os mais jovens. Neste sentido, Voltolini frisa que o desafio é compreender a linguagem da nova geração nos meios digitais para que possamos estabelecer diálogos, sem deixar de lado a autonomia e identidade dos jovens.

 

Confira a palestra na íntegra:

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