Em janeiro, o Oswald Formações, em parceria com as demais escolas do Grupo OEP (Associação Crescer Sempre, Colégio Elvira Brandão e Colégio Piaget), promoveu uma palestra de abertura intitulada “Futuro da Sustentabilidade”, com Edson Grandisoli – que é Doutor em Educação e Sustentabilidade pelo PROCAM-USP e Pós-doutor pelo Instituto de Estudos Avançados USP, diretor da Reconectta e do Movimento Escolas pelo Clima –, mediada pelo Assessor de Sustentabilidade do Grupo OEP, Felipe Gothardo.
O tema da palestra foi escolhido pela relevância em meio às crises ambientais que enfrentamos e, também, por compreendermos que sustentabilidade é uma responsabilidade social coletiva. Por esses motivos, em 2025, a educação ambiental e as práticas sustentáveis serão algumas das principais pautas que guiarão as ações das escolas do Grupo OEP. No início do evento, Felipe Gothardo indicou algumas das ações que o Oswald e as demais escolas do Grupo OEP já possuem, tais como: reciclagem, coleta seletiva, parcerias com cooperativas etc. No entanto, a conversa serviu como ação norteadora para os profissionais do colégio se aprofundarem na complexidade das questões ambientais e, assim, compreenderem as possibilidades para tornar o Oswald uma escola mais consciente e sustentável. O encontro contou com a participação de diversos profissionais do colégio, uma vez que, como Felipe Gothardo salientou, o trabalho de educação ambiental é feito por todos os educadores – professores, inspetores de pátio, profissionais administrativos, coordenação e direção – e ocorre tanto nas salas de aula quanto em estudos do meio, grupos e clubes de estudo, eventos escolares etc.
O evento foi bastante engrandecedor e fomentou grandes questionamentos, graças aos conhecimentos e à didática de Edson Grandisoli, que abordou as pautas ecológicas de forma ampla, tratando o assunto como uma responsabilidade coletiva e contextualizando histórica e cientificamente como chegamos no cenário ambiental atual. Por meio dos chamados indicadores ambientais – estatísticas selecionadas que representam ou resumem alguns aspectos do estado do meio ambiente, dos recursos naturais e de atividades humanas relacionadas –, o pesquisador evidenciou o quanto as sociedades humanas têm acelerado o processo de aquecimento global, graças a nossa relação predatória e utilitária com a Terra.
Grandisoli exemplificou que a pegada ecológica – isto é, a quantidade de natureza necessária para sustentar uma economia – no Brasil é de cerca de 1,8 planetas. Isso ocorre tanto pelo consumo inconsciente como pelo fato de que, nas últimas décadas, o crescimento populacional subiu de maneira exponencial e a estimativa é de que estes dados apenas se estabilizem em 2080, gerando a necessidade de um sistema de produção mais intenso e que, consequentemente, utiliza mais recursos naturais. Além disso, a urbanização desenfreada e o agronegócio ocasionam processos de desertificação, desmatamento, que resultaram na extinção de cerca de 190 espécies nos últimos anos. Ainda que os chamados “sumidouros” (ou seja, a atmosfera, o mar e o solo) tentem regular o ecossistema de nosso planeta, eles possuem limitações. E, apesar dos governos de vários países terem se comprometido com as pautas ecológicas, na prática, acabam as deixando em segundo plano e não atingindo metas fundamentais para a conservação do planeta. O Brasil, por exemplo, conta hoje com 13 mil lixões a céu aberto, que já deveriam ter sido desativados há anos.
Apesar de ter embasado suas falas, principalmente, em evidências científicas, o biólogo também deu atenção aos aspectos sociais do momento que enfrentamos, alinhavando as questões ambientais aos direitos humanos. Afinal, como podemos repensar o nosso consumo e a cadeia de produção de maneira que todos tenhamos necessidades básicas e universais (água, alimentação, saúde, educação e moradia) supridas de forma harmoniosa para com o meio ambiente? Além disso, o pesquisador enfatizou que, segundo o livro “O Animal Social”, de Elliot Aronson (Editora Aleph), essas múltiplas crises ambientais têm tido efeitos negativos na saúde mental de crianças, jovens e adultos, provocando até mesmo transtornos psicológicos, como a chamada ansiedade climática. Na palestra, Edson explicou que esta angústia surge por diversos fatores, como o fato de que o desafio parece tão grande que é difícil identificar como, quando e onde devemos agir. Além disso, a velocidade e a volatilidade dos acontecimentos do mundo contemporâneo nos gera uma sensação de incerteza, principalmente porque muitos chefes de governo parecem não colocar, na prática, a pauta ambiental e o bem-estar coletivo (da espécie humana e de toda a fauna e flora do planeta) como prioridades. Por fim, este cenário desanimador resulta na sensação de impotência perante as crises e, consequentemente, leva muitos de nós a uma posição de comodismo.
No entanto, a conversa problematizou as ações predatórias do nosso modelo de sociedade, assim como trouxe reflexões acerca de como podemos agir, de forma coletiva, para amenizar e reverter as crises ambientais. A fala saiu do lugar comum quando o assunto é ecologia ao não apontar soluções rasas ou individualistas, pois, segundo Grandisoli a premissa de que o comportamento individual é o grande responsável por “salvar o meio ambiente” é insuficiente para um impacto ambiental significativo. Ainda assim, Edson não deixou de dar a devida importância às ações cotidianas de sustentabilidade que podemos adotar, como: coleta seletiva, reciclagem e reaproveitamento, uso de energias alternativas, consumo responsável, mobilidade elétrica, arquitetura sustentável, seleção de fornecedores etc.
Por fim, Edson Grandisoli enfatizou que o futuro da sustentabilidade lógica do mercado green – ou seja, produções de grandes impactos, mas que os “compensam” – é, sim, ir além, numa lógica restaurativa. O biólogo explicou que o green parte de um modo de produção que é degenerativo em relação aos recursos naturais, mas que buscam alta eficiência, tornando os processos menos agressivos para com os ecossistemas. Enquanto isso, a sustentabilidade é a busca por estar “zero a zero”, como a regularização do carbono nos países em desenvolvimento, compensando os países mais ricos que seguem emitindo mais CO² na atmosfera. As práticas restaurativas, no entanto, são aquelas que visam realmente regenerar matas ciliares, despoluir rios, além de buscar processos que se assemelham cada vez mais a sistemas vivos, em que as sociedades humanas ajam de forma integrada para com o resto da natureza. Por meio de todas essas elucidações, as falas de Grandisoli fizeram com que todos os educadores do Oswald refletissem sobre como podemos ser uma escola não somente sustentável, mas como podemos construir, juntos, uma escola regenerativa.