A educação vem de casa? À escola o que é da escola, à família o que é da família

Em janeiro, o psicanalista e pesquisador Rinaldo Voltolini debateu com os educadores oswaldianos sobre os impactos do individualismo na relação escola-família e na propagação de pensamentos anticientíficos.

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Na foto, educadores no Teatro Oswald, conversando com psicanalista Rinaldo Voltolini por meio de videochamada exibida em um telão. (Fotografia por: Jéssica Amaral).

O Oswald Formações, em parceria com as demais escolas do Grupo OEP (Associação Crescer Sempre, Colégio Elvira Brandão e Colégio Piaget), promoveu uma palestra formativa intitulada “À escola o que é da escola, à família o que é da família”, com Rinaldo Voltolini – Doutor em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP e Pós-doutor em Psicopatologia e Psicogênese na Universidade Paris XIII, além de professor na Faculdade de Educação da USP. A conversa visou provocar reflexões nos educadores oswaldianos sobre a divisão entre as responsabilidades das escolas e famílias no processo de formação e educação de crianças e jovens. 

 

O psicanalista, que se dedicou a estudar o mal-estar da educação, iniciou o debate com a contextualização histórica de como surgiram os tensionamentos atuais na relação escola-família. O psicanalista explicou que, uma vez que não nascemos com autonomia, a tutoria de crianças e jovens – em sociedades de direito como a nossa – é partilhada. Essa responsabilidade social e jurídica é atribuída desta maneira em função de uma dupla filiação que ocorre no nascimento: do país ou nação de origem e da família. Na prática, isso significa que o Estado concede o pátrio poder às famílias, no entanto, sob vigilância; ou seja, em casos de negligência ou violação dos direitos das crianças e dos adolescentes, o governo pode (e deve) interceder.

 

Portanto, segundo Voltolini, a relação entre escola e famílias deve ser harmônica, de forma conjunta, mas agindo em diferentes aspectos em prol do desenvolvimento psíquico, social e cognitivo de crianças e jovens. O pesquisador reforçou que é normal neste processo que, eventualmente, existam atritos ou conflitos, mas que a busca por soluções deve ser mútua. No entanto, ele também salientou que o cerne da questão é que os conflitos têm se tornado confrontos, ou seja, os dilemas são encarados de maneira agressiva e menos dialética. Essa perspectiva leva a um cenário que, infelizmente, não é raro, em que as famílias têm buscado se sobressair às escolas por meios jurídicos.

Ao longo do encontro, foi explicado que essa “hiperjudicialização” ocorre por conta de uma lógica individualista, na qual as pessoas estão mais “hipersensíveis” aos seus direitos. Seguindo o pensamento do sociólogo francês Michel Gauchet, estamos na era do “Sofro, logo acuso”, em que colocamos cada vez menos intermediações entre o ato de sofrer e o de acusar o outro, sem que sejam feitas reflexões sobre as causas do sofrimento e as possibilidades para lidar com este sentimento. Com isso, situações que poderiam ser resolvidas por meio do diálogo e de uma responsabilização partilhada entre famílias e escolas são terceirizadas e levadas diretamente para o âmbito jurídico, pondo em xeque a confiabilidade e a autoridade da escola.

 

Ainda, Rinaldo salientou que, segundo Hannah Arendt, estamos diante da autoridade quando estamos diante de uma relação de consentimento, e não diante de uma relação de coerção ou persuasão. No campo do conhecimento, as figuras de autoridade não são aquelas pessoas que sabem tudo, mas aquelas cujos estudos, investigações e argumentações teóricas constroem uma confiabilidade basal que as faz serem escutadas. É, então, por meio dessa autoridade consensual que passamos a confiar nos conhecimentos transmitidos pelos educadores. No Brasil, por exemplo, segundo a nossa legislação, tanto as escolas públicas quanto as privadas devem seguir uma série de regulamentações e protocolos legais que asseguram compromissos coletivos com a educação.

 

No entanto, para o psicanalista, a lógica individualista faz com que cada vez mais pessoas passem a querer impor seus valores sem que sejam respeitados os acordos coletivos e democráticos. Esta desconfiabilidade estabelecida deu abertura para que projetos como o de “Escola sem Partido” e “homeschooling” ganhassem adeptos. O discurso que endossa essas propostas é autoritário, no sentido de que busca persuadir as pessoas corroborando com vontades privadas e individuais, sem se valer de argumentações embasadas e motivações coletivas. Para além do mal-estar no âmbito escolar, o psicólogo expôs que a crença de que a base do conhecimento deve estar nos valores dá vazão para que cresçam teorias anticientíficas, por exemplo, o terraplanismo ou a negação de fatos históricos, como a Ditadura Militar no Brasil e o Holocausto.

Então, o debate evidenciou que, embora tanto a escola quanto a família devam trabalhar tanto no campo do conhecimento quanto dos valores – de forma dialética, e não dilemática –, é na família que as crianças e jovens devem formar, principalmente, seus valores; enquanto a escola é o local em que deve ocorrer, essencialmente, a construção de  conhecimentos. 

 

Por fim, o psicanalista também salientou que as escolas não são meras agências de aprendizagens técnicas, pois também possuem uma importante função social para crianças e jovens, uma vez que é por meio do contato com a diversidade de costumes e valores que eles adquirem uma espécie de “ética de convivência”. Desta forma, passam a compreender que as leis da família não são as únicas e nem soberanas no mundo. Portanto, para Voltolini, todas as escolas têm uma função pública e são insubstituíveis. Por fim, ressaltou o pensamento do sociólogo Christian Laval no livro “A escola não é empresa”, que frisa a importância de que haja uma resistência à lógica neoliberal e empresarial nas escolas.

 “A educação está em torno do bem comum, não se trata de extirpar benefícios individuais, não se trata disso. Mas se trata de que se há uma coisa que é coletiva, a educação deve transmitir [essa coisa]. Como, por exemplo, o próprio conhecimento, que não é valorativo, as ciências respondem também a valores. É ingênua a ideia de que a ciência é neutra, mas ela visa a construção de um conhecimento que não é caprichoso, não é relativo aos valores.”, comentou Voltolini.

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