Como é o modo de vida dos indígenas da sua terra?
Como povos originários, ali na minha região, a gente come peixe, a gente tem um sistema que se chama “Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro”, que vocês aqui chamam de mandioca – que é a macaxeira, como a gente chama. E nós temos uma mandioca brava, [com] a mandioca brava a gente produz: farinha, beijú, tapioca, tucupi… Dentro dessa roça, a gente planta abacaxi, banana e vários tipos de batata para a gente poder se alimentar. Então, na roça a gente já planta isso. No rio, nossos pais ou nossos irmãos pegam peixes. Na floresta são as caças. Então, esse são os nossos hábitos alimentares. […]
Como a pandemia afetou as terras indígenas em que seu povo vive?
Então, vou falar da pandemia. Eu fui uma das mulheres que criou uma campanha que se chama “Rio Negro, nós cuidamos!”. Tem no YouTube como nós fizemos o resguardo do nosso território. Por esse motivo que eu estou na USP, nessa universidade gigante, pra falar para a sociedade brasileira, e pra esse mundo globalizado em que nós vivemos, que nós, povos originários, fizemos nossos resguardos com nossas plantas medicinais. A gente não foi afetado do mesmo jeito que os países do primeiro mundo, os países que estavam desenvolvidos, porque nós fizemos resguardo com as sementes, com as folhas, com as raízes… Então, a gente conseguiu se proteger, aonde nenhuma farmácia, nenhum médico, nenhum cientista tinha remédio pra Covid-19, [não] tinha medicação.E nós fizemos nosso resguardo através do nosso saber, da nossa floresta, das nossas folhas, das nossas sementes, das nossas resinas (que são as resinas de abelha). Então, a gente não foi afetado na parte de resguardo. Nós fomos afetados nas escolas, porque a merenda da escola, a merenda industrializada, não conseguia chegar pra dentro do território. Porque nós criamos barreiras sanitárias, pra gente não deixar coisas contaminadas chegarem dentro do nosso território.
A área da educação, a área da saúde, do “mundo branco” – que a gente chama –, foi afetada. Mas do lado nosso, como tradicional, a gente não foi afetado, porque a gente continuava dentro de casa, continuava tendo remédio, continuava tendo defumação.